quinta-feira, 23 de maio de 2013

Gentileza


Meus pés não alcançam o chão. Fico balançando-os continuamente com a esperança que o chão se aproxime. Em um descuido meu All Star vermelho chuta o balcão em minha frente e o atendente me olha com fúria. Sorrio e viro mais uma dose dupla de gentileza.  O líquido marrom deixa um rastro de fogo por onde passa. Prendo a respiração e aperto os olhos. Bato o copo no balcão. Uma tentativa frustrada de copiar os filmes.  Abro os olhos no mesmo instante de busco por ar. Outra onda de queimação.
-Meus problemas que deviam queimar. – As palavras saem sem meu consentimento e o garçom me encara novamente.
-Mais uma dose. - Peço. Ordeno. Suplico. Não sei mais com que tom as palavras escapolem de mim.
-Você já bebeu de mais. - Ele tenta puxar meu copo. Fecho minhas mãos com toda minha força em torno do copo. O gesto desesperado me presenteia com mais uma dose. Meus olhos brilham. Eu posso sentir.
-É o último. Você vai se levantar e ir embora.- O homem fala firmemente.
-Não posso. Tenho que cumprir uma promessa.- Sorriu levando o copo aos lábios. Sorvo de uma única vez todo o conteúdo. Queimação. Falta de ar. Queimação. -Tenho que me afogar em gentileza. 


2 comentários:

  1. Oi Natalia, tudo bem?

    Que profundo esse conto! Adorei. É da sua autoria mesmo? Vim também pra dizer que respondemos a TAG que vc nos indicou! Muito obrigada mais uma vez peloo carinho!

    beijos
    Kel
    http://porumaboaleitura.blogspot.com.br/2013/05/tag-e-selinho-12-livros-em-12-meses.html

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    Respostas
    1. Oi! Tudo bem sim!

      Todos os contos postados no blog, até hoje, são de minha autoria sim.

      Que bom que respondeu! Obrigada você pelo carinho!

      beijos

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